terça-feira, 25 de maio de 2010

Descobertas

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Meu mundo era do tamanho do meu quintal. O céu era o limite. Ali fazia descobertas incríveis. Observava o trabalho de formigas, o crescimento das hortaliças e frutas, brincava e virava cientista quando descobria uma larva ou outro inseto qualquer.

A vida andava devagar. Num mundo só de adultos o que me restava, além das excursões pelo quintal, era balançar. Ora num balanço ora numa rede ou  deitar-me numa cadeira do tipo espreguiçadeira e espreitar o céu. Gostava de imaginar formas para cada uma das nuvens e à noite olhava a Lua e tentava ver São Jorge em seu cavalo. Admirava a luz piscante das estrelas mas nunca me passara pela cabeça o significado de universo.

Para mim, quando chovia chovia em todo lugar, quando fazia sol era sol em todo lugar. Imagine a surpresa, quando lá pelos 8 ou 9 anos, a professora começou a dizer que enquanto em alguns lugares as pessoas aproveitavam a luz do sol em outros países já era noite e que mesmo chovendo,  havia sempre céu azul e muito sol acima das nuvens. A palavra infinito era tão enigmática quanto o próprio universo.

Começava assim a minha descoberta de mundo. Saía do meu mundo infantil e entrava para o mundo adulto onde havia mais mistérios que eu supunha.

Água salgada? Parecia loucura. Ir à Lua? Utopia.

A sede de mais saber foi sendo saciada através de leituras. Os livros passaram a ser  amigos inseparáveis.

Júlio Verne… Li quase todos seus livros. Fui à Lua, conheci o centro da Terra e passei dias num submarino, mas o que mais gostei foi viajar pelo mundo numa corrida maluca e conhecer países e culturas diversas. Sua fértil imaginação combinava com a minha condição infantil e mal sabia eu que suas histórias, que nada mais eram que ficção baseadas em possibilidades, viriam a se tornar realidade em tão pouco tempo.

Monteiro Lobato… até matemática e gramática se podia aprender através das histórias.

Conheci o sertão nordestino e a fome que secava vidas e, ainda teimavam em sobreviver, pelas mãos de Graciliano Ramos.

Hoje, as informações estão cada vez mais acessíveis. Temos a internet e programas que fazem qualquer crianças compreender o funcionamento do universo em segundos, mas  a quantidade tem prejudicado a qualidade.

Quando o alimento é muito cozido é fácil de ser digerido porém não é tão saboroso nem tão nutritivo.

Aprender devagar e dar o devido tempo para a acomodação e a reflexão são imprescindíveis. Este tempo nos faz olhar a vida com mais atenção, a ser mais tolerantes, a respeitar o tempo de cada um e de cada coisa.

A fruta colhida a seu tempo é sempre mais saborosa.

4 comentários:

Eduardo Montanari disse...

Eu tenho pra mim hoje que essa grande quantidade de informação, todo o tempo e tão rápida mais estressa do que ajuda. Dizem que tudo tem o seu tempo, mas hoje a cada dia nos dão menos tempo para tudo.

Fernando Martinez disse...

lembrei da minha infância, muito lindo.



http://fernandomartinezn.blogspot.com/

Cris Michelon disse...

E quem não fez do seu quintal um mundo mágico? só seu. com botões que poderia modificar o mundo, as pessoas, plantas e animais?
Tem um mimo para você no meu cantinho.
bjs

Anônimo disse...

Quisera eu ser um desses amores perfeitos do seu jardim.