sexta-feira, 27 de maio de 2011

Resgatando a Festa de Santo Antonio do Corvo Branco

Recebi a agenda cultural de minha querida cidade de Lençóis.

Com prazer vejo que entre todos os eventos está o resgate de uma festa que por muitos e muitos anos fora uma tradição:

a Festa de Santo antônio no Bairro do Corvo Branco.

 

Relembro que ainda menina ia à missa na Matriz,image 

hoje Santuário Nossa Senhora da Piedade e, depois da missa o andor de Santo Antônio era levado em procissão até o Corvo Branco. Era uma procissão bem longa onde praticamente todas as moças e moços gostavam de ir. Alguns pela devoção, outros pela oportunidade de encontrar um(a) possível pretendente, e todos, certamente pela festa que ocorria depois.

Distante cerca de 3 km, as pessoas caminhavam pela estrada poeirenta e cantavam.

A festa era simples assim como as pessoas que a frequentavam. Tinham algumas barraquinhas  onde crianças e adultos se divertiam com os  jogos de pescaria, coelhinho, bingo, doces… e tinha um serviço de som onde o forte era o correio elegante.

Naquele tempo quando alguém tinha interesse em uma garota bastava ir até o sistema de auto falante e dedicar uma música a amada. O locutor com voz melada anunciava quem estava dedicando aquela melodia e assim todos ficavam na expectativa para saber quem era a pretendida.

Muitos casamentos começaram ali. O santo casamenteiro contribuia e para finalizar havia sempre a missa na Capela de Santo Antônio.

image

Tinha também um coreto onde se realizavam leilões. As prendas doadas eram porquinhos, frangos, tortas e bolos.

Depois as coisas foram se modificando e fizeram grandes barracas do tipo restaurante. O encanto da festa foi se perdendo e aos poucos ficou completamente esquecida.

Foi com alegria que li o seu retorno, mesmo que modificada e agora até com shows, mas o que vale é reviver a festa.

Muitas são as simpatias ligadas ao Santo. Se quiser saber alguma delas clique sobre a palavra simpatias.

Deixo aqui a programação e quem quiser comparecer acredito que irá gostar.

Programação

De 10 a 13 de junho
Programação:
Dia 10 - sexta-feira
19h30 - Missa na Capela
20h00 as 23h00 - Quermesse - Feira de artesanato
20h30 - Peça teatral - O Auto do Amor Caipira
21h00 - Show com Edu e Anderson
Dia 11 - sábado
10h00 - Cavalgada com a Imagem de Sto Antonio - saída da Igreja N. S. Aparecida
12h00 - Cavalgada - chegada no Corvo Branco
12h00 - Almoço Caipira - Salão do Rancho Sertanejo - Animação Emílio Campanholi e Conjunto
13h00 - Brincadeiras e briquedos tradicionais
19h30 - Missa na Capela
20h00 as 23h00 - Quermesse - Feira de artesanato
20h30 - Peça Teatral "Pena que a Galinha Sumiu"
21h00 - Show com Orquestra de Violas de Itapuí
Dia 12 - domingo
10h30 - Missa dos Namorados na Capela
12h00 - Almoço Italiano - Salão do Rancho Sertanejo - Animação Marcos Ricieri
13h00 - Brincadeiras e brinquedos tradicionais
16h00 - Peça Teatral - Malasarteando
16h00 as 23h00 - Quermesse - Feira de artesanato
17h00 - Apresentação de danças com Street Star, Tablado, Casa da Cultura e In Pulsus
19h00 - Levantamento do Mastro de Santo Antonio
20h00 - Show com Musicamps
Dia 13 - segunda - feira - Dia de Santo Antonio
19h00 as 23h00 - Quermesse - Feira de artesanato
19h30 - Missa na Capela - Benção dos Pães
20h30 - Concerto Segue o Seco com Coral Municipal
21h00 - Show com Banda Namp

segunda-feira, 23 de maio de 2011

Cem anos.

 foto pai 002

( Foto de 1995 quando completou 84 anos com  alguns de seus bisnetos e tataranetos.)

Bolo de Aniversário - Recados e Imagens (12677)

Fosse vivo, hoje meu pai estaria completando 100 anos. Ele se foi há nove anos mas sua presença jamais será apagada de minha vida.

Foi um pai severo, severíssimo. Moldado por uma educação do século XIX e por uma geração machista, muitas vezes fez sofrer a todos da família pela postura altiva.

Ele sempre tinha razão, não havia espaço para diálogos. Assim cresci, sendo sempre submissa e obediente. Naquele tempo criança não tinha voz e nem podia ouvir conversa de gente grande. Se por acaso, distraída,  eu não visse que havia alguém na sala a conversar e entrava no ambiente bastava um olhar para que eu entendesse imediatamente o recado e voltando nos pés saísse dali em silêncio.

Éramos só nós dois. Minha mãe morrera quando eu tinha apenas 9 anos. Meus irmãos, todos bem mais velhos, já eram casados e seus filhos tinham a mesma idade que eu.

Eu estudava e cuidava da casa mas ele nunca gostou que eu estudasse, mesmo sendo a escola em frente à casa onde morávamos. Fazia minhas lições escondida e deixava para ler e estudar quando ele já tinha ido dormir.

Banho também se devia fazer quando ele saía, pois criado nos moldes de uma educação européia, dizia que muito banho fazia mal e se por acaso chegasse  e percebia que eu estava no banho desligava o relógio de energia e assim a chuveirada terminava gelada e com um sermão.

foto pai 003Mas, por outro lado tinha um coração bom. Repartia tudo o que tinha em casa com os amigos e vizinhos. Se via alguém passando frio era capaz de tirar sua camisa para dar aos outros.

Na época das frutas ninguém podia colher  nada antes da hora e depois da colheita, feita por ele, era repartida igualmente entre todos os filhos.

Dizia que havia tido apenas 3 meses de aula, mas aprendera o suficiente para ler, escrever e calcular até juros com uma rapidez espantosa. Aliás, sua inteligência e memória fora fabulosa até nos últimos dias de vida.

Gostava de jogar baralho e me ensinou muita coisa que pode parecer espantosa aos pais de hoje.

Ensinou a jogar muitos tipos de jogos com cartas, ensinou-me a atirar com revólver e espingarda. Até comprou-me uma arma, daquelas de chumbinho à pressão, mas suficientemente perigosa pois poderia até matar pequenos animais. Mas também ensinou-me  a responsabilidade de tê-la em mãos.

Cresci assim meio garota, meio moleque. Submissa mas sabendo exatamente o que queria. Quando se tem limites rígidos se procura sonhar e realizar os sonhos.

Apesar da dureza da educação aquilo me fazia sentir segura. Sabia o que podia e o que desejava com clareza.

Naquele tempo parecia tudo tão difícil… Hoje, lembro com saudade.

Saudade de você, pai... Saudade das histórias de Saci, de mula sem cabeça, de Lobisomem… Saudade dos jogos de buraco… Saudade até das broncas, mas sobretudo saudade do seu sorriso e do brilho no olhar quando contava e recontava as histórias da família, da vinda dos pais para a América e das dificuldades e das vitórias.

Você não sabia mentir… era fácil descobrir porque  quando o fazia  havia sempre uma nesga de sorriso no canto dos lábios.

Saudade… Saudade…

Onde quer que estejas te envio meu abraço e meu muito obrigada.

Parabéns, pai. Amarei você eternamente.

Angela

domingo, 8 de maio de 2011

Mensagem a um desconhecido

 

fotos italia 2010 016

Teu bom pensamento longínquo me emociona.
Tu, que apenas me leste,
acreditaste em mim, e me entendeste profundamente.
Isso me consola dos que me viram,
a quem mostrei toda a minha alma,
e continuaram ignorantes de tudo que sou,
como se nunca me tivessem encontrado.
Fevereiro, 1956
Cecília Meireles

sexta-feira, 6 de maio de 2011

Insano viver

bauru

Silêncio e solidão

eternos companheiros.

Vida de labuta e de sonhos

colheita de mãos vazias.

Silêncio dos gritos sufocados

calor das lágrimas derramadas

gosto amargo e salgado

rosto lívido e molhado.

Choro o sonho

sonho acordar

acordo insone

insano viver.

 

Angel

Canção Excêntrica

anjos homens universo amor

Ando à procura de espaço
para o desenho da vida.
Em números me embaraço
e perco sempre a medida.
Se penso encontrar saída,
em vez de abrir um compasso,
protejo-me num abraço
e gero uma despedida.
Se volto sobre meu passo,
é distância perdida.
Meu coração, coisa de aço,
começa a achar um cansaço
esta procura de espaço
para o desenho da vida.
Já por exausta e descrida
não me animo a um breve traço:
- saudosa do que não faço,
- do que faço, arrependida.

Cecília Meireles.