segunda-feira, 23 de maio de 2011

Cem anos.

 foto pai 002

( Foto de 1995 quando completou 84 anos com  alguns de seus bisnetos e tataranetos.)

Bolo de Aniversário - Recados e Imagens (12677)

Fosse vivo, hoje meu pai estaria completando 100 anos. Ele se foi há nove anos mas sua presença jamais será apagada de minha vida.

Foi um pai severo, severíssimo. Moldado por uma educação do século XIX e por uma geração machista, muitas vezes fez sofrer a todos da família pela postura altiva.

Ele sempre tinha razão, não havia espaço para diálogos. Assim cresci, sendo sempre submissa e obediente. Naquele tempo criança não tinha voz e nem podia ouvir conversa de gente grande. Se por acaso, distraída,  eu não visse que havia alguém na sala a conversar e entrava no ambiente bastava um olhar para que eu entendesse imediatamente o recado e voltando nos pés saísse dali em silêncio.

Éramos só nós dois. Minha mãe morrera quando eu tinha apenas 9 anos. Meus irmãos, todos bem mais velhos, já eram casados e seus filhos tinham a mesma idade que eu.

Eu estudava e cuidava da casa mas ele nunca gostou que eu estudasse, mesmo sendo a escola em frente à casa onde morávamos. Fazia minhas lições escondida e deixava para ler e estudar quando ele já tinha ido dormir.

Banho também se devia fazer quando ele saía, pois criado nos moldes de uma educação européia, dizia que muito banho fazia mal e se por acaso chegasse  e percebia que eu estava no banho desligava o relógio de energia e assim a chuveirada terminava gelada e com um sermão.

foto pai 003Mas, por outro lado tinha um coração bom. Repartia tudo o que tinha em casa com os amigos e vizinhos. Se via alguém passando frio era capaz de tirar sua camisa para dar aos outros.

Na época das frutas ninguém podia colher  nada antes da hora e depois da colheita, feita por ele, era repartida igualmente entre todos os filhos.

Dizia que havia tido apenas 3 meses de aula, mas aprendera o suficiente para ler, escrever e calcular até juros com uma rapidez espantosa. Aliás, sua inteligência e memória fora fabulosa até nos últimos dias de vida.

Gostava de jogar baralho e me ensinou muita coisa que pode parecer espantosa aos pais de hoje.

Ensinou a jogar muitos tipos de jogos com cartas, ensinou-me a atirar com revólver e espingarda. Até comprou-me uma arma, daquelas de chumbinho à pressão, mas suficientemente perigosa pois poderia até matar pequenos animais. Mas também ensinou-me  a responsabilidade de tê-la em mãos.

Cresci assim meio garota, meio moleque. Submissa mas sabendo exatamente o que queria. Quando se tem limites rígidos se procura sonhar e realizar os sonhos.

Apesar da dureza da educação aquilo me fazia sentir segura. Sabia o que podia e o que desejava com clareza.

Naquele tempo parecia tudo tão difícil… Hoje, lembro com saudade.

Saudade de você, pai... Saudade das histórias de Saci, de mula sem cabeça, de Lobisomem… Saudade dos jogos de buraco… Saudade até das broncas, mas sobretudo saudade do seu sorriso e do brilho no olhar quando contava e recontava as histórias da família, da vinda dos pais para a América e das dificuldades e das vitórias.

Você não sabia mentir… era fácil descobrir porque  quando o fazia  havia sempre uma nesga de sorriso no canto dos lábios.

Saudade… Saudade…

Onde quer que estejas te envio meu abraço e meu muito obrigada.

Parabéns, pai. Amarei você eternamente.

Angela

11 comentários:

Regina Antunes disse...

Boa tarde !!

Linda homenagem !! Deu saudade do meu!!

Um dia cheio de LUZ ! Mil beijos!

Uno Storese disse...

Cara Angela mi unisco a TE per ricordare i 100 anni di tuo papa Joao. IO l' ho conosciuto dai tuoi racconti e sono sicuro che egli sta nel posto riservati ai Giusti ; e da li protegge la tua vita , Egli ora fa parte degli Angeli che proteggono le persone Buone .
Tante belle cose a te dall' Italia
Fulvio Zontini

Anônimo disse...

dapazzi. Hay seres que siguen vivos mientras están en nuestro recuerdo.
Son experiencias propias e intransmisibles.

dapazzi disse...

siempre estan vivos en nuestro recuerdo, los seres queridos nos acompañan siempre.

Anônimo disse...

Que bom que guarda uma lembrança tão boa assim de seu pai. Meu pai também foi severo. Meu sogro era muito mais e agora aos 70 anos é que está um pouco moderninho.
Seu relato serve para que as pessoas vejam que pessoas de bom coração também podem ser severas. E que a severidade delas nada tem a ver com maldade.
Sinto-me feliz pelo amor que tem a seu pai. Os pais da gente são como anjos para nós. O meu já partiu há mais de trinta anos, mas a minha mãezinha está comigo e me orgulho ao dizer que está mais saudável do que eu, pois antigamente não tinha o que existe hoje e estraga a nossa saúde.

Beijos, minha querida

ALUISIO CAVALCANTE JR disse...

Querida amiga

Nossos pais
mesmo quando partem,
continuam a viver
em nós,
de outra forma
em nossas lembranças.

Por isso
com o tempo
os amamos cada
vez mais...

Que as estrelas
sempre brilhem em teu olhar.

franciete disse...

Minha querida amiga, é nestas alturas quando o coração está mais triste, é que a saudade doí mais fundo, todos os que já perdemos os nossos progenitores, de quando em vez vem aquela melancolia de um misto de saudade e dor e nestas horas a gente tem gravado mais as coisas boas do que as menos boas.
Adorei a mensagem além de triste é linda, e, eu adoro você e tudo que você escreve, beijinhos de luz e paz imensa.

rosa pena disse...

gostei muito do seu blog e é com prazer que pode publicar minha poesia... envio pra você! um beijo/rosa pena

Cris Medeiros disse...

Queria ter essa boa recordação do meu pai, que ainda é vivo, mas não sinto quase nada por ele.

Sempre foi um pai completamente ausente que só se manifestava para dar surras. Não sinto falta nenhuma dele, essa é a realidade.

Obrigada pela sua visita e pelos comentário tão carinhoso deixado lá no meu blog!

Beijocas

Edna Lima disse...

Você teve um pai maravilhoso.Teve de ser pai e mãe.Poucos pais desta época eram diferentes. A diferença estava no amor e responsabilidade.
Volte a postar sua histórias.
São belas. Bjs. Edna

Benedicto Blanco disse...

Caríssima amiga Ângela.
Li essa homenagem que vc fez ao seu querido pai. Conheci o seo João. realmente ele era um homem probo, porém, como vc disse, era basatante severo. Lembro que ele morava aqui no bairro Biquinha, perto da gráfica, e ia de ônibus circular até a estação rodoviária pra depois pegar outro onibus visitar o túmulo da esposa. Seu João Zuntini foi um grande homem. Construiu uma grande familia e andariou um vasto circulo de amigos e, Lençóis Paulista. Ângela, parabéns pela homenagem que vc fez a ele.
Grande e fraternal abraço
Benedcito Blanco