domingo, 18 de julho de 2010

Roskoff

outono relogio 007

Minha idade não sei. Acredito que sou do século XIX.

Meu nome Roskoff Patente, apelido Cipolone.

Sou do tempo em que se escrevia o algarismo 4 (em romano) com quatro pauzinhos e por muito tempo trabalhei somente com um ponteiro.

Não me lembro se meu primeiro “patrão” foi o Sr Zenone, mas pertenci a ele e depois ao seu filho Giobatta mais conhecido como Battista.

Italiano, de longos bigodes, me levava sempre no bolsinho do paletó preso a uma corrente. Minhas batidas confundiam-se com as de seu coração.

Fomos amigos por mais de 50 anos e com ele marquei horas alegres como as do dia de seu casamento com dona Oliva, realizado na Igreja de San Giorgio Mártire, em Sanguinetto - Itália.

Estive com ele na difícil decisão de deixar a Itália com a mulher grávida, a mãe e os irmãos.

Senti sua mão trêmula e quase perdi o compasso no descompasso de seu coração quando o navio deixou o porto de Gênova e Battista olhou sua terra natal pela última vez.

Fui seu companheiro de viagem durante toda a longa e demorada travessia. Foram as horas mais longas de minha existência.

Quantas vezes fui acariciado! Ele me esfregava  por causa da maresia e enquanto o fazia sentia lágrimas quentes que furtivamente escorriam pelo seu rosto e serviam para limpar minha lente.

Lembro-me do luar que ajudava a iluminar meu mostrador que refletia a ansiedade e o medo do desconhecido misturados ao sentimento de esperança. Sentimentos confusos que tiravam o sono de Battista.

No porto de Santos, fui eu quem anunciou que era chegada a hora do desembarque e o início de uma nova vida.

Fui seu fiel companheiro durante a longa viagem de Maria-Fumaça onde o desconforto dos bancos de madeira só não era pior que a fumaça e fuligem da chaminé da locomotiva.

Anunciei também a hora da chegada na Hospedaria dos Imigrantes e depois a chegada ao destino final: Fazenda Banharão na região de Jaú, estado de São Paulo-Brasil.

Marquei a hora exata do nascimento dos quase vinte filhos do casal e também dos acontecimentos tristes, das mortes de alguns bebês e da sua mãe.

Acompanhei sua luta, a compra das primeiras terras, o reencontro com o  pai depois de quase 40 anos sem notícias e, também de sua própria morte.

Acostumado com as mãos calejadas que me alimentavam com corda todas as manhãs estranhei quando passei a pertencer a um jovem de apenas 17 anos, o filho caçula de nome João.

O mundo girava exatamente como meus ponteiros e a vida deu tantas voltas…

Continuei servo fiel e cheguei às mãos da filha caçula de João. Angela encontrou-me porém já sem forças e sem ponteiros. Afinal foram  tantos anos de trabalho…

Finalmente estou aposentado e descanso no Museu Alexandre Chitto.

Ali recebo visita de muitas crianças e jovens que sequer imaginam minha longa história e trajetória, mas estou feliz de ter cumprido bem minha missão junto a esta família.

Angela

4 comentários:

Uno Storese disse...

Bellissima storia di questa Orologio, Storia di una famiglia partita dal vecchio continente per il nuovo mondo. Sono Orgoglioso di averlo visto in quel museo di Lençois Paulista. guardandolo , mi passava davanti alla mente la storia della Famiglia Zontini . Anch' io sono un Zontini che era andato a vedere dove avevano messo le loro radici questi lontani parenti. Grazie Angela per la bellissime parole di questa storia ; e di essere cosi sensibile e di ricordare le radici dei tuoi padri.

Il tuo Parente Fulvio dall' Italia

Hod disse...

OLá Angel,

Amigo é casa, acolhimento,
O Tempo que passa não envelhece as boas lembranças...Isso é memória.

Feliz dia do Amigo!!

Beijo pra ti.

Regiane Zuntini disse...

Oi Angela,
Que história linda! Fiquei emocionada e o Leandro também. Vamos arrumar um tempinho para visitar o museu para ver o relógio. Beijos
Regiane

Regiane Zuntini disse...

Oi Angela,
Que história mais linda! Ficamos emocionados e lembramos do nono.
Quando tiver um tempinho vamos ao museu para ver o relógio.
Beijos
Regiane Zuntini