Minha idade não sei. Acredito que sou do século XIX.
Meu nome Roskoff Patente, apelido Cipolone.
Sou do tempo em que se escrevia o algarismo 4 (em romano) com quatro pauzinhos e por muito tempo trabalhei somente com um ponteiro.
Não me lembro se meu primeiro “patrão” foi o Sr Zenone, mas pertenci a ele e depois ao seu filho Giobatta mais conhecido como Battista.
Italiano, de longos bigodes, me levava sempre no bolsinho do paletó preso a uma corrente. Minhas batidas confundiam-se com as de seu coração.
Fomos amigos por mais de 50 anos e com ele marquei horas alegres como as do dia de seu casamento com dona Oliva, realizado na Igreja de San Giorgio Mártire, em Sanguinetto - Itália.
Estive com ele na difícil decisão de deixar a Itália com a mulher grávida, a mãe e os irmãos.
Senti sua mão trêmula e quase perdi o compasso no descompasso de seu coração quando o navio deixou o porto de Gênova e Battista olhou sua terra natal pela última vez.
Fui seu companheiro de viagem durante toda a longa e demorada travessia. Foram as horas mais longas de minha existência.
Quantas vezes fui acariciado! Ele me esfregava por causa da maresia e enquanto o fazia sentia lágrimas quentes que furtivamente escorriam pelo seu rosto e serviam para limpar minha lente.
Lembro-me do luar que ajudava a iluminar meu mostrador que refletia a ansiedade e o medo do desconhecido misturados ao sentimento de esperança. Sentimentos confusos que tiravam o sono de Battista.
No porto de Santos, fui eu quem anunciou que era chegada a hora do desembarque e o início de uma nova vida.
Fui seu fiel companheiro durante a longa viagem de Maria-Fumaça onde o desconforto dos bancos de madeira só não era pior que a fumaça e fuligem da chaminé da locomotiva.
Anunciei também a hora da chegada na Hospedaria dos Imigrantes e depois a chegada ao destino final: Fazenda Banharão na região de Jaú, estado de São Paulo-Brasil.
Marquei a hora exata do nascimento dos quase vinte filhos do casal e também dos acontecimentos tristes, das mortes de alguns bebês e da sua mãe.
Acompanhei sua luta, a compra das primeiras terras, o reencontro com o pai depois de quase 40 anos sem notícias e, também de sua própria morte.
Acostumado com as mãos calejadas que me alimentavam com corda todas as manhãs estranhei quando passei a pertencer a um jovem de apenas 17 anos, o filho caçula de nome João.
O mundo girava exatamente como meus ponteiros e a vida deu tantas voltas…
Continuei servo fiel e cheguei às mãos da filha caçula de João. Angela encontrou-me porém já sem forças e sem ponteiros. Afinal foram tantos anos de trabalho…
Finalmente estou aposentado e descanso no Museu Alexandre Chitto.
Ali recebo visita de muitas crianças e jovens que sequer imaginam minha longa história e trajetória, mas estou feliz de ter cumprido bem minha missão junto a esta família.
Angela
4 comentários:
Bellissima storia di questa Orologio, Storia di una famiglia partita dal vecchio continente per il nuovo mondo. Sono Orgoglioso di averlo visto in quel museo di Lençois Paulista. guardandolo , mi passava davanti alla mente la storia della Famiglia Zontini . Anch' io sono un Zontini che era andato a vedere dove avevano messo le loro radici questi lontani parenti. Grazie Angela per la bellissime parole di questa storia ; e di essere cosi sensibile e di ricordare le radici dei tuoi padri.
Il tuo Parente Fulvio dall' Italia
OLá Angel,
Amigo é casa, acolhimento,
O Tempo que passa não envelhece as boas lembranças...Isso é memória.
Feliz dia do Amigo!!
Beijo pra ti.
Oi Angela,
Que história linda! Fiquei emocionada e o Leandro também. Vamos arrumar um tempinho para visitar o museu para ver o relógio. Beijos
Regiane
Oi Angela,
Que história mais linda! Ficamos emocionados e lembramos do nono.
Quando tiver um tempinho vamos ao museu para ver o relógio.
Beijos
Regiane Zuntini
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