Que saudades de mim!

Que saudades de mim!

Ultimamente ando tão repleta
De outros afazeres e seres
Que me esqueci de mim...
Não gosto de viver assim...
Gosto de estar e fazer, mas
Gosto de pensar e meditar.
Ando tão repleta ...
Só não me sinto completa!
Tenho tempo pra todos,
só não tenho tempo pra mim.
Não vejo o tempo passar.
Que saudade do céu azul,
Da natureza, do mar enfim...
Onde estão todas essas coisas
Importantes pra mim?
Sou toda atenção, paciência
E onde ficam minhas carências?
Ao meu lado, todos ficam bem, mas
Sinto-me sozinha, sem ninguém...
Tão repleta...
E esse vazio?!
Parece que não estou em mim.
Só essa tristeza, sem fim...
Procuro,
Busco,
Faço,
Recomeço,
Remexo,
Relembro...
Não quero viver assim.
Quero nascer de novo,
Quero uma infância feliz,
Quero dias claros, azulados,
Noites lindas e enluaradas.
Quero sentir o perfume das flores,
Observar a nuance das cores,
Quero uma vida de amores.
Quero dançar,
Quero nadar,
Quero criar,



Quero voar,
Quero pintar
E bordar.
E, sobretudo,
Quero amar.
Cansei de cumprir horários,
Obedecer regras,
Cansei de conversas tolas
De gente fútil...
Quero pedir um tempo.
Um tempo pra fazer o que eu gosto.
Fazer tudo aquilo que me der na telha.
Dormir na rede, espiar as estrelas,
Andar descalça, rolar na relva,
Sorrir, brincar ...
Aquela que hoje me olha do espelho,
Não sou eu.
Aquela, eu não conheço,
Melhor, não reconheço.
A menina sapeca
Dorme, dentro de mim.
Sinto-me crisálida.
A casca dura
Esconde frágil criatura.
Mas, um dia...
Rompida a casca,
Esticarei minhas asas,
Ganharei forças
E, qual uma borboleta,
Voarei pelos céus
Em busca dos campos floridos.
Mas, enquanto esse dia não chega,
Espio e aproveito as nesgas de sol,
Que às vezes bate em meu pequeno mundo...
Pode parecer pouco,
Para quem anseia
Por manhãs ensolaradas,
Pores de sóis avermelhados,
Pelo salgado do mar...
Pelo cheiro doce das manhãs
E pelo cheiro da terra molhada.
Ando tão cansada!
Quero apenas viver...
Viver um grande amor.

Angela Leda (11/10/2002)