Desde criança que ouvia falar do apocalipse... e quando falavam via nos rostos sempre um sinal de apreensão, de medo... um medo que vinha do interior, um medo quase irreal, um medo de coisas inimagináveis...
Eu era criança e aprendia no catecismo coisas sobre o céu e o inferno e que devíamos ter medo do "diabo" e sempre pedir proteção à Deus.
Em casa, havia o maior respeito com os santos, as coisas sagradas, a ponto de se cobrir todos os santos e espelhos na semana santa e, na sexta-feira da paixão,jejuar e não se olhar nos espelhos nem para se pentear...
Havia também respeito para com os mortos. Quando alguém morria rezava-se missa e se fazia novenas e o cemitério era chamado "campo-santo". E eles realmente descansavam em paz.
As crianças nunca se intrometiam nos assuntos dos mais velhos e brincavam felizes, esperando pelo "Papai Noel", procurando serem boazinhas para ganhar o esperado presente, que muitas vezes acontecia só no Natal mesmo e, era apenas um.
Com ele se brincava o ano inteiro e aprendia-se a conservá-lo, a ter carinho pelo que se tinha, se valorizava cada gesto de atenção, de carinho, de afeto.
Tempos antigos? Nem tanto... Passou-se menos de meio século e hoje podemos ver que tudo está mudado.
O Natal está chegando e a grande preocupação está nas compras que se fará para o Natal, como se já não se consumisse e se comprasse tudo que se precisa durante todo o ano.
Costumo dizer que hoje fazemos Natal todo dia, no que se refere a comilança... Hoje comemos frutas, castanhas e nozes em qualquer tempo, também o panetone está a disposição o ano todo...Refrigerante, que era artigo de luxo, hoje temos para escolher e beber a qualquer hora. Alguns até já substituiram a água por ele.
As crianças fazem lista de presentes ao bom velhinho, que sabem não existe, mas fingem acreditar e vão aos shopping com os pais para comprar tudo o que querem... Aprendem desde cedo a consumir e a enganar-se e fingir como os pais.
O fato mais importante do Natal fica em segundo plano... Jesus? Quem é ele? Aquele cara que morreu na cruz? Que tolice!!!
Respeito aos mais velhos? Coisa de babaca, de gente ultrapassada...Hoje o que impera é o "eu". Cheguei primeiro no ônibus, sento. Tenho direito... "tô pagano"...
A falta de respeito para com os idosos ou deficientes é tanta que já foi preciso leis para reservar vagas para eles nos ônibus, trens, estacionamentos...
Esta semana presenciei una cena lamentável de desrespeito.
Fomos assistir a apresentação de grupos de jovens que participaram durante o ano de vários projetos sociais em nossa cidade.
Jovens, principalmente de bairros, tiveram a oportunidade de aprender a tocar instrumentos musicais de corda, de sopro, de percussão... formaram orquestras, outros a dançar: tango, Hip Hop, entre outras modalidades, até desfile de modas apresentando roupas criadas pelos alunos.
Tudo muito bonito... hora de ser grato por receber gratuitamente a oportunidade de desenvolver talentos e preparar-se para alguma profissão. Afinal não é disso que todos precisamos? Oportunidades?
Prefeito presente, autoridades e a platéia mais parecia um mercado de peixe... Não se podia ouvir , nem apreciar nada ... apesar de todos os pedidos de silêncio... E quem estava se apresentando eram filhos, amigos... Era hora de prestigiar, mas os "manos" e "minas" queriam eram curtir... Respeitar quem queria ouvir?!...Isso não passava pela cabeça deles.
Quando ouço na TV casos como o da Eloá, o que me ocorre é que estamos começando a colher aquilo que muitos pais, por medo de educar e corrigir seus filhos ou por medo de "traumatizá-los", não souberam dizer "não" na hora certa.
Jovens que crescem sem conviver com o não tornam-se egocêntricos e não toleram quando alguém lhes nega qualquer coisa e, então, se frustam e matam.
Enquanto tivermos medo de educar nossos jovens, seja na família, na escola ou na sociedade, eles se tornarão "reizinhos" e nós todos seus reféns.
Ouvi outro dia uma reportagem sobre pichadores. A repórter entrevistava duas garotas que picham a cidade (engraçado como repórteres descobrem pichadores, bandidos e fugitivos e a polícia não).
Bem, elas estavam felicíssimas com o fato e diziam na maior cara dura: "Pô meu,é a mô adrenalina meu... o que nóis gosta memo é quando a gente tamo pichano e vem a puliça, aí a gente sai disparado e eles num pega a gente... Meu... é demais!.. a gente ri dos cara...Pichá é que nem um vício, quando si picha uma veiz nunca mais a gente qué pará.."
Pois é... e eu fico pensando o que essas garotas terão a ensinar aos seus filhos? Quais valores elas irão passar para as novas gerações?
Parece que hoje o joio está tomando conta do trigo, infelizmente!
5 comentários:
Oie!
Depois de algum tempo, (devido à falta de coragem).
Passando pra dizer, que acho incrível a maneira como expressa as suas idéias.
Sempre de forma simples, clara, doce, porém sem perder o foco da reflexão, sem deixar de fazer o diferencial a quem tem a oportunidade de ler!
Um forte abraço, beijos.
Ayunes
Puxa, Ayunes, um comentário seu e com tantos elogios me deixa muito emocionada e também muito grata. Obrigada pelas palavras tão gentis!
Você sabe, a casa é sua. Fique à vontade e, sempre que quiser, deixe sua opinião, ela será valiosíssima para mim. Um grande abraço,
Angela
Oi Angel!
Obrigado pelos elogios lá no meu blog, me deixou todo todo! hehe
Gostei do seu texto, passa uma amargura e um desespero - ainda - contido que fazem refletir.
Sou novo, tenho só 20 anos, mas também me espanto com os casos de falta de respeito, civilidade e educação que alguns contemporâneos esboçam. Lógico que se tem que levar em consideração que os jovens sempre vão demonstrar aquela arrogância e petulância características, é até natural, mas alguns casos realmente extrapolam.
Já refleti muito sobre isso e é difícil achar um culpado: os pais, a escola, a companhia dos amigos? Na minha época também as coisas se trajavam de uma ingenuidade absurda e, no entanto, cada vez mais parece que a promiscuidade se revela às crianças.
Algum erro, em algum momento, deve ter ocasionado tudo isso. Só nos resta imaginar que erro e que momento são esses.
E o mais importante, que não se pode esquecer: muita gente adulta reclama dos mesmos problemas que você tem reclamado, mas esquecem que criam porcamente seus filhos, esquecem que, quando ninguém está olhando, também cometem as maiores atrocidades; esquecem que também é papel deles botar um freio nessa juventude sem noção. A culpa é compartilhada difusamente.
Felizmente um tímido ensaio de recuperação está sendo implantado...a educação vai se assentando na obrigatoriedade das crianças irem para a escola; tenta-se melhorar a qualidade do ensino e por aí vai. Quem dera fosse fácil acabar com a ignorância.
Abraços, e sempre que puder comenta lá no meu blog! =]
Oiiiiiiiii ;)...
Gostei muito da postagem, sempre algum texto seu me faz lembrar a minha infância e o meu avô em especial. Dizer que cresci sem ouvir "NÃO" seria uma mentira, mas também cresci livre, como te disse, cresci sabendo os caminhos que iriam me trazer frutos e flores e os caminhos que somente iriam me presentear com dores. Sou nova, mas fico com vergonha das meninas da minha idade, vejo cada coisa por ai Angel que custo a acreditar, creio muito que a família é responsável tanto pelo joio em pessoa como o trigo em pessoa. Não se pode privar um jovem do mundo, colocar numa redoma de vidro, com medo que ele se machuque (assim ele não vive e não aprende o certo e o errado), mas também não se deve deixar que ele caminhe totalmente livre, para que não fuja do controle e se torne um adulto indomável. Mostrar o caminho com sinceridade e os pés na realidade é a melhor coisa que se pode fazer a quem amamos.
Beijãoooooooooooooooooooooo!!!
Postar um comentário