
Alegria pura.
Felicidade contagiante.
Ingenuidade infantil.
Olhando para esta foto volto aos meus tempos de criança.
Na verdade minha infância não foi nem um pouco parecida com a destas crianças.
Pelo contrário, tive uma infância bastante difícil mas tinha também a doce ingenuidade das crianças e o sonho da felicidade.
Sonhava com o Natal!
Esperava por ele um ano inteiro (naquele tempo demorava muito a passar) e, muitas vezes não ganhava nenhum brinquedo.
Mas, mesmo assim era uma época de alegria, época de famílias unidas, época onde podíamos beber refrigerante, veja só que coisa básica!
Hoje, isso pode parecer uma idiotice mas, como era aguardada a chegada do engradado de refrigerante!
As crianças faziam uma verdadeira festa.
O divertimento era ainda maior quando se fazia um furinho, com um prego, na tampa de metal e, com o refrigerante quente e um pequeno chacoalhão ele entrava em erupção como um vulcão.
Era uma alegria!
Não podia faltar manjar branco com ameixas. Era o manjar dos deuses. Naquele tempo não havia nada de mais gostoso!
Hoje? Doce que não tiver leite condensado não é doce.
Manjar com ameixas? Coisa de pobre!
Mas como era saboroso...
A ameixa deixava-se para comer no final, era a apoteóse!
Pudim também não podia faltar. Pudim feito em casa , em banho-maria. Usava-se lata de cera vazia, isso mesmo cera de passar no chão... parece loucura mas é verdade... lavava-se bem a lata e ela se transformava numa excelente forma de pudim porque a tampa era bem justa e não abria durante o cozimento. E ninguém tinha indigestão nem diarréia nem ficava envenenado.
Na minha casa nunca teve ceia de Natal.
A festa era o almoço com toda a família.
Aliás, aquela era uma noite povoada de sonhos.
Mal clareava o dia a garotada já estava de pé para ver se o Papai Noel houvera trazido qualquer presentinho: bonecas de louça, carrinhos de plástico ou simplesmente balinhas.
E durante a manhã o que se via pelas ruas eram as crianças a desfilarem com suas bonecas ou puxando os carrinhos por um barbante amarrado. Sim, porque pilha ou controle remoto nem pensar.
Quando alguém ganhava uma boneca que abria e fechava os olhos era motivo de admiração porque as bonecas daquele tempo tinham os olhos pintados e olhavam sempre para o mesmo lado, olhar meio desconfiado.
Lembro-me de uma vez que ganhei uma boneca e não sei bem de qual material era feita mas um dia, melhor uma noite, a esqueci no quintal.
Choveu.
No dia seguinte tive de fazer o enterro da mesma porque ela derretera como massa de pão depois de molhado.
Tempo bom?!
Não sei...
Digo apenas que era diferente.
Um tempo onde dávamos nomes às bonecas e chorávamos quando elas se quebravam ou "morriam" como aconteceu com a minha.
Eu nunca tive muitos brinquedos. Improvisávamos. Pedaços de louça quebrados viravam aparelhos de jantar nas prateleiras feitas de tijolos nas brincadeiras de meninas.
Retalhos de tecidos viravam vestidos para nossas "top-models" de brinquedos.
Sim, éramos felizes.
Não sabíamos se haviam outras crianças que passavam fome, se haviam guerras, se os adultos estavam passando por dificuldades...
Éramos só crianças.
Nossa alegria era pura.
A felicidade era contagiante.
Que saudade daquela ingenuidade infantil.
Angela