quinta-feira, 16 de abril de 2009

Uma aventura

S5034171

Estava eu no aeroporto de Linate esperando meu voo para  Dublin. O voo marcado para as 23h estava atrasado pelo menos duas horas e minha ex-aluna, hoje grande amiga, estaria me esperando no aeroporto de Dublin.

Eu, sem celular, porque o meu nem levei, sabia que não funcionaria por lá.

Procurei uma cabine e tentei ligar, porém minha “scheda” cartão era só para ligações dentro da Itália.

Que fazer??

Pensativa sentei-me em um banco quando, num desses instantes que só os anjos podem explicar, sentou-se ao meu lado um rapaz de mais ou menos 21 anos. Era brasileiro.

Começamos a conversar e ele disse que me viu tentar usar os telefones e percebera que eu não conseguira falar. Ofereceu o celular dele.

Aceitei, porém o telefone da minha amiga não respondia. Agradeci. Ele me tranquilizou dizendo que ela certamente saberia do atraso do voo. Conversamos durante quase todo o tempo de espera, duas horas. Disse-me que há mais de um ano estava trabalhando em Milão. Trabalhava com moda, mas estava morrendo de saudade do Brasil e da comida da mãe. Pensei: devo parecer a mãe dele. E procurei ser ainda mais gentil. Perguntei como soubera que eu era brasileira e ele me disse que na fila havia reparado na cor do meu passaporte. Fiquei pasma, eu que sou tão detalhista, nunca tinha reparado nas cores dos passaportes. Depois, no avião não o vi mais.

Em compensação sentei-me ao lado de um casal de namorados. Não me perguntem o rosto deles porque não vi. O rapaz sentado ao lado da janelinha estava totalmente encoberto pela garota que sempre de costas para mim o co bria de beijos.

Mas não eram beijos… eram beijocas, daqueles que se dá quando se quer fazer graça. Beijos barulhentos que todos os passageiros podiam ouvir. O rapaz, meio sufocado, não conseguia terminar uma frase que ela tascava beijos estralados, ruidosos. No começo achei graça, mas depois de uma hora, aquilo começou a me irritar. Meu papel de “vela” me incomodava muitíssimo. Achei falta de respeito, mas mudar de lugar não dava. O avião estava cheio. Finalmente o avião chegou ao seu destino e o rapaz, todo melado começou a se preparar para sair, nem assim vi o rosto dos dois.

Desembarque. Eram já quase 3 da manhã. Eu preocupada porque não havia conseguido falar com minha amiga.

Minha cabeça rodopiava, pelo sono, preocupação e também raiva da vela que chegou a derreter durante a viagem.

Cansada, só com uma bagagem de mão, porém pesada, comecei a caminhar pelos “tentáculos” daquele aeroporto. Mamma mia, como são extensos! Não sei ao certo mas acho que tem uns dois kms de extensão até chegar finalmente às cabines.

Alí formou-se uma longa fila, todos de passaporte em punho, aberto na página para facilitar a passagem pela fiscalização.

Eu era quase uma das últimas.

Minha vez. O rapaz fez um gesto e indicou-me outra cabine. Alí era só para os que tinham passaporte europeu.

Resignada dirigi-me até à outra que estava completamente vazia.

Somente eu era “estrangeira” ali.

Entreguei o passaporte e a moça me perguntou o endereço de onde eu ficaria hospedada.

Aí, caiu a ficha. Eu havia deixado a agenda com o endereço na mala grande e pesada, que ficara no Hotel , na Itália. Embora entendesse, não sabia falar inglês para explicar o fato e naquele instante tudo veio a mente: “Brasileiros são sempre barrados nos aeroportos e enviados de volta ao Brasil”. O que faço, meu Deus?

Calmamente respondi: Scusimi, Signora, ma non capisco cosa  parla. Parlo solo italiano. Riesce capirme lei?

Creio que ela não falava italiano e assim ficou alguns minutos a olhar meu passaporte brasileiro, porém com uma senhora que falava italiano e que havia chegado de um voo de Milão. Tornou a repetir a pergunta e eu tornei a responder tudo em italiano.

À nossa volta só o silêncio.

Todos os outros já haviam sumido. Creio que ela ficou mais embaraçada que eu, que àquela altura mantinha postura um pouco indignada, como a dizer: você está dificultando minha entrada?

Ela, sem saber o que fazer ou a quem recorrer colocou o carimbo e  escreveu “visitante”.

Assim continuei a caminhar. Comecei a rir sozinha da loucura. Uma mulher, sozinha, sem falar inglês, sem celular, sem o endereço da amiga, chegar de madrugada numa cidade como Dublin e ainda passar pela imigração daquela maneira.

Me veio à mente aquela piada do cara que saltou de para-quedas e ele não abriu e, aí se lembrou que lá embaixo deveria encontrar uma bicicleta, e falou: só faltava a bicicleta não estar lá!

Dito e feito: cheguei ao portão de desembarque e cadê minha amiga?

Olhei por todos os cantos e nada. Tentei usar o telefone público, mas como? Sem cartão e sem entender as instruções.

Pensei: o voo demorou, eu demorei a sair porque tive de “explicar” o que estava fazendo ali. Talvez ela tenha desistido e ido embora.

Pegar táxi? Como? Sem endereço e sem o bendito inglês?

Decidi. Passaria meus dias ali no aeroporto, como  no filme “O terminal”.

Já me preparava para ocupar uma das cadeiras quando sinto atrás de mim um cara alto, pelo menos 50 cm mais que eu, fazendo gestos.

Virei-me.  Era um lindo rapaz de olhos azuis. Era um polonês que não falava uma palavra em português mas definitivamente havia me encontrado. Era o namorado de minha amiga que estava me procurando em outro portões. Quando viram que todos haviam saído, menos eu, decidiram verificar outros portões de desembarque antes de irem embora.

Graças a Deus e a eles minha estadia foi maravilhosa. Foram dias inesquecíveis.

E também uma aventura. Agora decidi: estou estudando inglês.

 

Recadinho

Recomendo o http://artculturalbrasil.blogspot.com/

Um blog cheio de cultura para aqueles que amam literatura.

Hoje fui presenteada por uma de suas autoras:

Maria Granzoto, que a partir de um comentário meu trouxe um dos maiores clássicos da literatura brasileira: “O tempo e o vento”

Para quem não leu todos os livros dessa maravilhosa obra de Érico Veríssimo é bom dar uma passadinha por lá e ler as resenhas. simplesmente maravilhoso.

Obrigada Maria, pela atenção e carinho!

14 comentários:

MARU disse...

Minha amiga!!!! como te entendo!!!!
Eu falo portugués, españhol e um pouco de italiano.
Meu filho mais velho mora faz 15 años em USA, e eu falo inglés ^com as mäos, com os olhos, com os gestos, além das 30 palavras que conheço nesse idioma.
Sempre que viajamos a USA, para passar inmigraçäo, que alí é bastante difícil, meu filho, nos manda un Email que nós imprimimos, donde explica quem é êle (professor da Universidade de Carnell) que mora alí, dis o seu enderêço, que vamos a visitá-los, etc, etc, etc, e assim näo têmos problemas.
Gostei muito e foi muito divertido lêr o seu relato.
Um beijinho.

angel disse...

Pois é, Luna, Agora parece até engraçado, mas na hora só eu sei o friozinho na espinha.
Ainda bem que tudo acabou bem.
Obrigada, amiga, pela presença constante. É sempre um prazer ter você aqui.
Bacio.
Angel

conduarte disse...

KKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKK Como é duro nao saber entender a língua do outro, somos, querendo ou não competamente ignorantes nesse aspecto, e pior que tudo é igual, mas nem isto sabemos: Por favor? Onde fica? COmo faço??? Deveríamos fazer cursoso a vida inteira pra sobrevivência de ao menos três línguas na vida... Assim, não passavamos puros. Aqui no Brasil, então, como estamos embaixo do mundo... Ña América do sul, não falamos nada de outra língua a não se por necessidade de trabalho. Não temos o uso de outras línguas por aqui, apesar de o brasileiro ser esforçado e querer ajudar a todos os outros.
Muito louco isso, né?
BJ

Nanda Botelho disse...

Passando para dizer que tem um selinho para vc lá em casa!

Bjs.

Vinicius Giglioli disse...

Humm, I see!!

Doing your homework I bet!

Today we have a class! I'm free for teach!


comming soon


cya

Cris Animal disse...

Angel, vc teve anjos realmente ao seu lado. Os aeroportos andam em estado de alerta em relação a estrangeiros.
sabe, sempre penso que os anjos realmente nos guiam! basta ter calma e ouvir o que eles querem que façamos, como vc fez: esperou no banco até alguém te encontrar e nem demorou um minuto.....rs
beijo pra vc
...............Cris Animal

Arthurius Maximus disse...

Essa história me lembrou uma viagem que fiz a São Paulo. No avião uma senhora teimava em relatar como tinha pavor de avião e as imagens terríveis que vinham a sua mente durante todo o voo.

Ao chegar lá um engarrafamento dantesco me tomou mais de duas horas para percorrer um pequeno trajeto.

Mas, depois, tudo foi uma maravilha.

Anônimo disse...

Nossa, que bela aventura! E que imagem linda!!!
Uma boa sexta-feira pra vc!
Bjos,
Paulinha

Nanda Botelho disse...

Adorei o texto! E que aventura hein?

Engraçado como uma coisa fofa e engraçadinha, repetida por uma hora pode torar-se um inferno!

Bom que teve final feliz, adorro esse tipo de estória!

Bjão.

Mylla Galvão disse...

KKKKKKKKKKKKKKKKKKK
Que sorte heim??? ter "anjos" para guiar vc!!!
Que aventura heim??? Não queria passar por uma aventura dessas...
Belíssimo relato... Simplesmente divino...
Bjinhos

Vinicius Giglioli disse...

Is she very luckly person, don't you?

LC disse...

UAL ANGEL.
Dois presentes em uma só noite.
Primeiramente leio seu comentário 'carta' no meu blog e fico feliiiiiiiiiz de mais. Sabe Angel, ainda farei algo parecido com o que seu filho fez, ainda que seja estranho pois nasci no meio desse caos chamado São Paulo.
Você é um doce e sempre me emociona em seus comentários. Sabe de uma coisa? Adoraria você vendo esses filmes comigo, seja aqui na minha cidade ou ai na sua - prepare-se ainda vou ai especialmente para te ver :).
E esse post??? Que DIVINO. Que aventura gostosa essa sua. E o que é mais engraçado é que há menos de uma hora eu comia uma pizza e falava da Irlanda, ai chego aqui e VC está falando da Irlanda. Não é incrivel?
PS: interessante vc não ter notado a questão das cores dos passaportes (rs) é um jeito de nos carimbarem sem carimbos, já reparou?
Beijocas minha querida amiga.
Estou seguindo para o Rio de Janeiro logo mais, ficarei uns dias andando pela cidade maravilhosa.
Contarei novas semana que vem.
Fica com Deus.

LC disse...

ops faltou uma coisa: agora sabendo mais de seu filho vou le-lo com atenção, ele deve ser especial como a mãe, porque só alguém especial faz escolhas pela vida como ele fez.
Mande abraço para ele, pois já o admiro

Meus Detalhes Vividos disse...

Oi Mamma, estou com saudades, espero que você esteja otima. Muito carinhoso os seus comentários no meu blog :)... fiquei surpresa ao ver que iria postar o mesmo que postei.... sabe foi algo que tocou meu coração que ainda anda tão triste... Obrigada pelo carinho.


Amei a sua aventura... me identifiquei bastante com essa história... claro que não foi fora do país, foi aqui mesmo no Brasil, quando fui para um lugar, escolhido na hora, sem saber ao menos onde ia ficar :).... sensação de liberdade maravilhosa... ainda te conto nos minimos detalhes querida.


Beijinhos No Seu Coração e Fique Com DEUS Mamma Angel... minha anjinha ;)!!!