sábado, 9 de maio de 2009

As mães que tive



Muito quentinho e gostoso aquele lugar onde estava eu.
Assim, escondidinha até de minha mãe. Ela ainda não sabia que eu já existia. Preocupada e feliz com a chegada da primeira netinha e da outra que chegaria em breve e já sentindo os efeitos da menopausa nem se deu conta que um "serzinho" crescia em seu ventre.
Eu crescia e quando comecei a me mexer acho que a acordei.
Acordei para o que estava acontecendo.
Ela, uma avó, estava grávida pela sétima vez.
Naquele tempo gravidez na idade, como diziam, era constrangedor.
Como se amar na velhice fosse pecado!
Pior de tudo é que ela era cardíaca.
Tinha uma veia do coração dilatada e os médicos disseram que se ela levasse a gravidez adiante morreria ou com a anestesia ou pela força que faria num parto normal.
Imagine quanta tristeza e medo ela deve ter sentido!
Eu era sua sentença de morte.
Aconselharam a fazer aborto mas a gravidez já estava avançada.
Resignada, confusa, envergonhada e melancólica passou os meses que restavam escondendo de todos a barriga e os temores.
De enxoval para o bebê apenas uma mortalha.
Acreditava que ambas morreriam: ela e o bebê.
Ela se chamava Carolina e tinha uma irmã chamada Alzira.
Alzira nesta época já estava bem na vida e prometeu à Carolina que se alguma coisa acontecesse ela cuidaria da criança.
Mas Deus sabe o que faz e aqui estou para agradecer-lhe pela vida e também pela mãe que escolheu para mim.
Não pude conviver muito tempo com ela, é verdade e nem me recordo de sua voz, pois tinha a saúde frágil.
Não demorou a ter problemas e os vários derrames levaram sua voz, sua capacidade de comunicação escrita e também os movimentos.
Mas não levou sua capacidade de amar e isto pude sentir até o dia em que partiu pra sempre.
Tinha somente nove anos e foi o dia mais triste de minha vida.
Como gostaria de poder lhe dar um abraço amanhã e dizer o quanto a amo e admiro sua coragem.
Queria dizer obrigada pela vida que não me negaste.
Tia Alzira cumpriu sua palavra, mesmo à distância, porque meu pai não deixou que ela me adotasse mas mesmo assim cuidava de mim.
Em minha casa nunca faltou leite, frutas e sacos de açúcar, pois meu tio era um dos diretores de uma Usina.
Foi ela também quem se preocupou quando meus dentes começaram a ter problemas e enviou-me a um dentista.
Foi ela quem me fez tantos vestidos bonitos, quem me deu uma boneca "Estrela", de abrir e fechar os olhos, boneca de borracha, de longos cabelos loiros, coisa rara naquele tempo.
Pena que ficava sempre na caixa.
Tinham medo que eu a estragasse, brincando.
Foi ela quem me trouxe tercinho de Roma, echarpe de Paris, tesourinha dourada de Toledo na Espanha, lembranças dos Estados Unidos e tantas outras coisas.
Mas o que importava mesmo era o significado que tinham.
Onde quer que ela estivesse se lembrava de mim.
Foi ela quem me presenteou com um enxoval bordado em Ibitinga, a roupa que usei depois que tirei o vestido de noiva...
Tantas lembranças!
À minha mãe não pude dizer o quanto a amava pois era muito pequena quando partiu.
Foi à tia Alzira que pude dizer, uma semana antes dela ir-se encontrar com minha mãe, o quanto eu gostava dela e, não me esquecerei nunca de suas últimas palavras.
Já bastante debilitada pela idade e pela doença me disse: "você também mora no meu coração".
Assim, há duas semanas ela se foi.
Sei agora que as irmãs estão juntas a conversar e a se chamar de comadre, como faziam todos os domingos quando se visitavam.
Comadre Nena e comadre Zira devem estar colocando a conversa em dia, depois de tantos anos separadas.
À vocês, minhas duas mães, meu amor eterno.
À todas as outras mães do mundo meus cumprimentos pela coragem e pelo amor de trazer ao mundo uma criança.
Sejam todas abençoadas.

Angela

17 comentários:

Ester disse...

Emocionante seu relato, querida!

Abraço-a nesse dia, não sou mãe biológica, mas sinto-me mãe de muitos!


beijos com carinho,

marie disse...

Lindo o post que dedicou às suas duas mães!
Onde elas estiverem estão orgulhosas de si.
Beijinho

MARU disse...

Angel, gracias por ser como eres. con personas como tu, la humanidad crece en el sentido de la bondad y gratitud.

La vida, a veces es muy complicada.
Sabiendo que la vida de tu madre no sería larga, enseguida te compensó con una segunda madre que te colmaria de atenciones y cariño.

Enhorabuena, en este dia tan especial, para ti y todas las madres del mundo.
Un beso, amiga

Dulce Miller disse...

Angel querida, que texto emocionante!!!

Que seu dia seja maravilhoso hoje, viu?

beijão no coração!

Meus Detalhes Vividos disse...

Feliz Dia Das Mães Minha Mamma Do Coração... Aproveite Demais o Seu Dia..... Estou Com Saudade.... e Queria Te Entregar Hoje A Mesma Flor Que Entreguei As Minhas Mammas Daqui ( Mãe e duas irmãs).... Me Emociono Sempre Com Sua História, Parecida Com A Minha.... Se Puder Passe No Meu Cantinho e Leia o Que Postei.. Beijão No Coração E Te Cuida... Te Amo!!!!

Anônimo disse...

Há! Meu amor como deve de ter chorado por nos mostrar tão linda e triste história a da sua vida.
Mas acredite que também eu chorando, e com os olhos rasos de lágrimas aqui estou para lhe desejar todo o bem do mundo e dar-lhe um abraço pem apertadinho e saiba que estarei sempre aqui para te apoiar.

Compondo o olhar ... disse...

feliz dia das mães!!!
tenha um dia iluminado.

bjocas

Marcia M. disse...

oi angela que linda postagem
emocionante e cheia de amor parabéns por sua vida ser assim cercada de amor!

Liliana G. disse...

¡Ay, Angel! ¡Qué historia de amor tan grande! Este homenaje que le hacés a tu madre tiene el brillo de las lágrimas que has derramado el día de su partida.
Mi querida amiga, sos un sol.
Muchos besos.

Nanda Botelho disse...

História triste...

Ainda bem que o mundo mudou e hoje, se duvidar, pessoas com sessenta anos estão parindo!

Mesmo separadas tão cedo, vcs tiveram uma ligação forte. E, que bom que a vida mandou pessoas legais para lhe apoiarem!

Bjs!

disse...

Angel,

És um anjinho. Quase choro ao ler "AS MÂES QUE TIVE"

Beijos,

Teka

Marisa Pimenta disse...

Coincidência, tb tenho uma filha temporã, mas foi tb c esforço e mta vontade q ela chegou. Tb não pude agradecer a minha mãe por ter tentado q eu nascesse durante 10 anos, mas qdo cheguei ela se foi. Porém sempre agradeci a minha tia avó q me criou e me deu 5 irmãos. Foi mto bom saber q alguém tem uma história parecida. Minha temporã hoje tem 31 anos .
Bjks

Alvaro Oliveira disse...

Olá Angela... minha nova amiga

Permita-me que assim a considere,
pois entrou em meu modesto canto
e ficou.
O meu profundo reconhecimento
e agradecimento pela sua visita
e comentário. Seja bem-vinda
sempre, pois foi recebida com agrado.

Adorei seu lindo espaço e a
primeira leitura que fiz a este
texto das MÃES, me comoveu.

Não me alongo mais para não me tornar inoportuno e mmaçador.

Um abraço. Felicidades

Alvaro Oliveira

Lygia disse...

Angel!

Pode ter certeza de que esses dois anjos, agora com asas, estarão sempre cuidado de você como se fosse aquele bebezinho que seguraram um dia.
Linda sua história. Emocionante mesmo.

Beijos

Lygia

Laguardia disse...

Muito obrigado por seguir o Blog Brasil Liberdade e Democracia. Um blog em que o autor é alguma vezes ácido e revoltado com o que acontece com o Brasil hoje em dia.

Mas graças a Deus que há pessoas como você que escrevem coisas belas que nos tocam a alma e nos mostram o que há de belo neste mundo. O amor pelo semelhante como Cristo nos ensinou.

Seus comentários serão sempre benvidos.

Anônimo disse...

Q delicia seu texto! não coisa melhor q ter mãe e ser mãe,
bju enorme1

Edgardo disse...

Este é realmente um canto à vida.
Un beijo
Edgardo