Uma experiência marcante

Peço licença hoje para participar de uma blogagem coletiva do Vidas linha. Segunda-feira postarei o próximo capítulo de Uma historia de amor.

A história abaixo é real. Aconteceu comigo e marcou profundamente minha vida.

Novembro.

Estávamos concluindo o ano escolar e preparando a festa de final de ano. Tanto trabalho, tantas ocupações, provas para preparar, corrigir, médias de alunos, ensaios para a festa enfim, tudo o que move os professores nesta época.

Uma amiga, professora, chegou com a notícia que estava grávida, mas não estava exatamente feliz. Já tinha um casal de filhos e aquele não havia sido programado. Outra amiga também triste por causa de sua recente separação. Dois filhos ainda pequenos para criar porém, muitos planos para seus pouco mais de 29 anos.

Nossa escola era modelo e tínhamos reuniões todas as semanas. Reuniões produtivas para falar das dificuldades dos alunos e também das nossas. Uma delas era uma espécie de terapia em grupo. Assim podíamos contar com o apoio das outras e, quem orientava era a psicóloga.

Percebendo o desgaste físico de todos, naquela noite a psicóloga pediu para que todos nós deitássemos num tapete, colocou uma música suave e deixou a sala envolta na penumbra. Disse que deveríamos fazer uma viagem. Deveríamos pensar que já estávamos em férias e que cada um deveria se imaginar num local bastante agradável.

No início eu senti um arrepio, um frio vindo do alto de minha cabeça e foi um pouco difícil   concentrar-me. Depois vi-me andando sobre uma areia muito fina e aquecida pelo sol que envolvia tudo. Em seguida, já estava no fundo do mar, mergulhando com os golfinhos. A água também estava morna e eu nadava entre os peixes e corais de Fernando de Noronha.

Não mais que de repente entrei em um túnel, onde a luz faiscante quase me cegava. Comecei a chorar e a dizer: Não, eu não quero ir…

Estava soluçando e repetindo sempre as mesmas palavras quando a psicóloga resolveu interromper a sessão e acendeu as luzes. Senti como um puxão e retornei ao estado em que me encontrava antes, deitada no tapete da sala.

Feita uma roda todos relataram o que haviam “vivenciado” com aquela experiência.

Minha amiga, grávida, que antes estava deitada com a barriga encontada em minha cabeça começou a dizer: Eu não consegui sair daqui. Meu corpo todo estava gelado e assim permaneci. A outra disse que fora até Fernando de Noronha e mergulhara com os golfinhos, exatamente como eu fizera.

Pensei:- Como pode ela relatar uma coisa que eu pensei, assim da mesma forma?

Propositalmente, a psicológa me deixou para o final. Já refeita pude dizer o que senti e, principalmente do túnel e da angústia que senti sendo puxada para dentro dele.

Ela então me perguntou se minha mãe havia tido algum problema durante a minha gravidez. Respondi que sim, que era cardíaca e de idade avançada e os médicos  haviam aconselhado um aborto pois ela não resistiria ao parto, mesmo que fosse cesária.

Ela propôs que encenássemos o fato. Foi como uma espécie de redenção, onde eu protagonizei o bebê e sua luta por sobreviver e ao mesmo tempo minha mãe, que angustiada não sabia o que fazer.

Naquele instante de tanta delicadeza, minha amiga me abraçou e disse: Obrigada, isto tudo me ajudou a decidir. Só agora eu posso imaginar o que ele está sentindo com minha rejeição. Abraçou a própria barriga e disse: Eu te amo e te quero, meu filho.

Isto tudo aconteceu numa quarta-feira. No dia seguinte, enquanto ensaiávamos com as crianças a outra amiga se aproximou de mim e convidou-me para fazer companhia a ela numa viagem até uma cidade próxima. Ela queria antecipar as compras de Natal. Disse-lhe que sim, pois também queria comprar o presente para os meus filhos. Nossos filhos tinham quase a mesma idade.

Em casa, contei ao meu marido que iria com ela na sexta à noite até a cidade de Bauru. Pela primeira vez,ele me disse : Não!

Disse que se eu quisesse ele me levaria no sábado de manhã. A estrada estava sendo duplicada e era muito perigosa, principalmente à noite.

No dia seguinte comuniquei à minha amiga que não poderia ir e ela convidou a outra, aquela que estava grávida.

Assim aconteceu.

Naquela madrugada, às 4 da manhã o telefone tocou. A notícia não podia ser pior. Um acidente matara minhas duas amigas e a  filha de uma delas, de apenas 9 anos, que era também minha aluna.

Na hora, quase desfaleci mas depois tudo ficou claro. Eu deveria estar com elas. Meu anjo me protegeu revelando-me, de alguma maneira, o que estava por acontecer.

Chorei muito. E, depois do enterro, deitei-me na cama e, entre soluços, vi novamente o mesmo túnel.

Só que agora elas é que estavam caminhando, envoltas pela luz e, minha amiga trazia nos braços um bebê. Todas se viraram e sorrindo me acenaram. Foi quando ela me mostrou a criança que trazia nos braços e me disse: Era outro menino. Com um beijo e um sorriso elas desapareceram na luz.

Certamente Deus as recebeu com um largo sorriso e lá devem estar, felizes. Um dia nos reencontraremos, estou certa disto.

( Esta história é real, aconteceu em 1991.)

Cibele, Marina e Claudinha- Saudade eterna de vocês!!!!

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